quinta-feira, 3 de maio de 2012

Igrejas ricas, comunidades pobres

 

Uma vez, uma jovem estava conversando comigo, e com orgulho desmedido, comenta que a torre da igreja dela (cristã protestante) é maior do que as torres das igrejas católicas no município onde ela mora. Ela também complementa que cada um daqueles tijolos de vidro usados em decoração custaram quase R$ 150 cada um. E usaram 70 ou 80 na fachada, acho.
Minha vontade foi virar para aquela jovem e dizer:E daí?. Grande coisa. Só que isso mascara um problema, relacionado às pessoas.
Sempre fui contra igrejas grandes. Na minha opinião, igreja com mais de 150 membros tem que ser dividida. Igreja é comunidade, não multidão. Como relacionar-se, olhar nos olhos das pessoas e ver a presença de Cristo, se você não conhece nem 10% da membresia, mesmo depois de anos na igreja? Para alguns é "excitante" conhecer gente nova na igreja todo dia, mas isso quebra completamente o preceito de comunhão entre as pessoas. Afinal, o que é uma ecclesia, senão uma comunidade? E como ser uma comunidade se você não conhece as pessoas?
Mas continuando... Temos as pessoas cada vez mais carentes, em tantos aspectos: Financeiramente é o aspecto mais comum, afinal desemprego é um problema no nosso Brasil. Mas as pessoas são carentes de afeto e carinho, muitas tem baixa auto-estima com isso. Falta muito cuidado, e falar que Deus os ama é muito estranho. Afinal, eles não vêem Deus...
Muitos pastores (graças a Deus não todos) tem uma goela de avestruz: O que tem no caixa da igreja, quer gastar. E na sua maioria, com obras e benfeitorias, de forma a registrar nos anais históricos, o seu nome como "aquele pastor que fez isso e aquilo". Muitos acham que isso é demonstrar que seu ministério é abençoado. Ledo engano.
As pessoas tem auto-estima baixa, mas se sentem melhores quando vão a uma igreja grande. Grande e bonita, diga-se de passagem. Muitas (como aquela jovem que citei em cima) acham que é um mérito a igreja ter um pináculo tão alto. Outros falam com orgulho: "É a minha igreja", como se isso fosse um mérito. E pastores arrancam centavos, reais e outras quantias da membresia que, embriagada com o templo, colocam ele como um fim, não como um meio.
Igrejas com escadas rolantes, projetores multimídia para o louvor, teclados Korg, baterias Pearl, guitarras Ibañez... Qual o fim nisso? Um teclado Korg cusa uns R$ 3 mil, uma bateria Pearl passa dos R$ 2 mil, uma mesa de som com 48 canais (enquanto não se usa nem 25) custa mais de R$ 5 mil. Afinal, vale a pena torrar o dinheiro da igreja nisso? Isso vai melhorar o louvor? Aliás, isso vai ser melhor aos olhos de Deus?
Não falo que deveremos ter guitarras, teclados e baixos, nem retroprojetores. Mas vem a pergunta: É realmente útil? Deus não está nem aí se o músico é fenomenal, o que importa é o seu coração, como aquele que ama ao Senhor e o louva com o talento que lhe foi dado. Então, por que não comprar uma boa guitarra (não precisa ser a melhor, mesmo porque o músico da igreja não é O MELHOR), uma boa bateria, um teclado jóia, um retroprojetor... Mas precisa mesmo de um piano Yamaha para acompanhar o cântico congregacional? Isso vai ajudar ao culto ser "mais abençoado"? Um projetor multimídia é realmente importante? Eu acho problemático, se isso vem apenas para satisfazer o ego da membresia, é melhor repensar tudo.
Quanto às igrejas... Já notaram que as igrejas maiores estão cada vez maiores, e as menores, ainda menores? As pessoas sentem-se alguém simplesmente pela sua igreja ser bonita, imponente ou influente politicamente. Mas e o q ela faz na comunidade? Ela é influente na comunidade? Ela ajuda as pessoas, mesmo as que não são cristãs? Ela é presente na vida do bairro, lutando por direitos ainda não alcançados? Ou é um castelo de beleza num meio de pobreza? Uma Bélgica cravada no meio da Índia?
Os cristãos que moram em comunidades carentes, quase todos descem o morro e vão congregar numa igreja grande, "no asfalto", embora tenham várias igrejas pequenas, comunidades e congregações perto da sua casinha humilde, talvez com melhor maneira de alcançá-los, de abraçá-los e tratar as suas necessidades. Mas muitos só sentem-se "gente" indo congregar no asfalto.
Deixa eu contar uma história: Conheço um homem que, junto com sua esposa, começou uma congregação em uma área carente, numa grande cidade brasileira. Área bem violenta também, eles com muita oração e trabalho iniciaram as atividades. Numa vez, veio um rapaz, membro desviado de uma igreja grande, sede de uma denominação imensa, distante muitos quilômetros da sua casa. Pediu oração para emprego. As pessoas se empenharam por aquela alma, oraram sem cessar, e apareceu a oportunidade de emprego. O rapaz reconciliou-se com Jesus (aleluia), deu uma oferta de gratidão para essa congregação... E correu para a outra igreja, a passos largos. Disse que agora ia "para uma igreja de verdade". O responsável confessou isso com muita raiva, e é justificada. Eu ficaria com raiva também, poxa! Tanta luta, tanta oração, e ouve isso de resposta?
Falta as pessoas se perceberem como filhas de Deus, inteira e completamente. Aí, não vai ser um baixo da Fender, uma fachada envidraçada ou ar-condicionado central que vão fazer eles se sentirem bem. Será a certeza no seu íntimo de serem amados pelo Senhor que fará eles amarem estar em comunhão com seus irmãos.
Quanto a gastar dinheiro com isso, por que não investir em bancar missionários evangelizando, fazer uma campanha nas redondezas da igreja, anunciar que Cristo salva a todos que puderem ouvir? Isso sim, é o que Deus quer que a verba seja empregada, não com benfeitorias que não levam a nada, apenas a inflar egos e esvaziar carteiras.




fonte ------------------ @edvaldo_h

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