Duas vereadoras que receberam apenas um voto nas últimas eleições
municipais vão concorrer à reeleição em 2012. Sirlei Brisida, de 44
anos, e Constança de Melo de Carvalho, de 79 anos, ficaram como
suplentes no pleito de 2008 e assumiram o mandato neste ano em Medianeira (PR) e Coivaras (PI), respectivamente.
Ela conta que ainda está aprendendo a trabalhar como vereadora e que o mandato "está sendo uma escola". A candidata não parou de atender as clientes que procuram o serviço de manicure. "Sei que isso é temporário, trabalho com os pés no chão", afirma. No entanto, diz que na atual campanha busca os votos necessários para a reeleição. "Diferente de 2008, estou com material de campanha, buscando eleitores. Espero que tenha mais votos do que daquela vez".
"Na época da eleição, perdi meu filho de câncer e pedi para não votarem em mim. Não estava bem, não fiz comício nem campanha. Eu não esperava nunca, minha filha, ser chamada a assumir. Foi Deus que me levou para lá", afirma.
Ela assumiu depois que dois antecessores – o vereador eleito e o primeiro suplente – foram cassados por infidelidade partidária, permitindo que ela tivesse seu terceiro mandato. Em busca de mais quatro anos no cargo, Constança faz planos para um possível novo mandato. "Acho que o tripé besta da política é pensar em saúde, educação e segurança. Tem que olhar para todos os lados e aparar as arestas. Meu primeiro projeto em 2013 será uma casa para a diversão dos idosos. Tenho muita garra ainda, minha filha".
3.640 candidatos com 1 voto
Levantamento realizado pelo G1 com base nos dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aponta que 3.640 candidatos receberam apenas um voto nas eleições municipais de 2008, todos eles postulantes ao cargo de vereador. Nenhum foi eleito diretamente – o vereador eleito com menor número de votos recebeu 27, em Borá (SP).
Dos 3.640 candidatos que receberam apenas um voto em 2008, 1.341 ficaram como suplentes, podendo ser chamados a qualquer momento durante os quatro anos de legislatura. Diversos motivos podem levar à convocação, como cassação, mudança de partido (que provoca a perda do mandato eletivo) ou até mesmo a decisão do próprio titular de abdicar da vaga, seja por motivos pessoais ou para concorrer a outro cargo.
Sistema proporcional
O processo eleitoral brasileiro é composto por dois esquemas distintos: o sistema majoritário (para eleição de presidente, governador, prefeito e senador) e o sistema proporcional (para escolher deputados federais, estaduais, distritais e vereadores).
No sistema proporcional, a quantidade de votos nem sempre elege um candidato. Ao votar para vereador, por exemplo, o eleitor escolhe o candidato e, também, o partido ou coligação ao qual ele é filiado. No final do pleito, cada partido obtém uma quantidade de vagas proporcional à soma das votações de todos os seus candidatos. As vagas são preenchidas, por ordem, pelos candidatos mais votados do partido. Se o candidato tiver pelo menos um voto, está apto a assumir. (Entenda melhor como funciona a eleição para vereador)
Para o ex-ministro do TSE Torquato Jardim, "não há discrepância e nada de errado" no fato de candidatos de um só voto assumirem em detrimento de outros mais votados.
"Isso faz parte do processo eleitoral. Por isso o sistema se chama 'lista aberta', onde o voto do eleitor tem dois significados, permitindo que ele opte tanto em um candidato quanto na legenda", afirma.
"É tradição brasileira desde 1932 o voto proporcional nas eleições para vereador, buscando romper o domínio de um ou outro partido e maior representação de todos", diz.
O juiz eleitoral de Alagoas Domingos de Araújo Lima Neto, no entanto, acredita que o sistema proporcional "gera casos injustos". "Assumem pessoas que você nunca ouviu falar, totalmente desconhecidas, porque a cadeira é do partido. A votação proporcional tem um cuidado com a legenda partidária, mas peca na questão da representatividade".
'Não sabia o que um vereador fazia'
O G1 encontrou outra candidata a vereadora que recebeu um só voto em 2008 e assumiu o cargo durante o mandato. Há também um vereador que assumiu tendo recebido dois votos. Nenhum deles, no entanto, concorre à reeleição.
Jorge Azevedo Filho, de 29 anos, suplente da irmã em Serra Caiada (RN), assumiu o cargo em maio deste ano depois que a vereadora perdeu o mandato por infidelidade partidária. Ele havia recebido apenas dois votos. "Antes de entrar na Câmara Municipal, eu não sabia o que um vereador fazia. Acho que todo cidadão tinha que ser vereador por alguns dias, pelo menos, para saber a importância do cargo", diz.
Em Ceará-Mirim (RN), município de 66 mil habitantes a 38 km de Natal, a farmacêutica Cláudia Roberta Câmara ficou como suplente em 2008, após receber apenas o voto do marido. "Minha família tem atuação política, mas eu nunca me envolvi. Quando vi meu nome, com um voto, no resultado final da votação, me surpreendi", relembra.
Um irmão de Cláudia é candidato a prefeito do município e a família optou por "concentrar esforços". "Já fiz vários requerimentos e tomo mais minha atenção para pavimentação e iluminação pública. Estou aprendendo bastante, mas vamos focalizar a candidatura do meu irmão, que já é uma briga grande.
FONTE---------------G1.com
Sirlei (esquerda) e Constança tentam reeleição nas
câmaras dos seus municípios, após assumirem o
mandato tendo recebido apenas 1 voto no pleito de
2008 (Foto: Reprodução/TSE)
Sirlei, que é manicure, entrou para a Câmara Municipal de Medianeira,
no Paraná, no último mês de junho. Ela garante não ter votado em si
mesma e diz não saber quem é o seu único eleitor. "Não tenho ideia de
quem votou em mim. Todo mundo brinca: 'fui eu, fui eu'. Mas, neste ano,
até eu vou votar em mim", afirma a candidata, que pediu para não receber
votos na época da campanha porque estava tratando um câncer.câmaras dos seus municípios, após assumirem o
mandato tendo recebido apenas 1 voto no pleito de
2008 (Foto: Reprodução/TSE)
Ela conta que ainda está aprendendo a trabalhar como vereadora e que o mandato "está sendo uma escola". A candidata não parou de atender as clientes que procuram o serviço de manicure. "Sei que isso é temporário, trabalho com os pés no chão", afirma. No entanto, diz que na atual campanha busca os votos necessários para a reeleição. "Diferente de 2008, estou com material de campanha, buscando eleitores. Espero que tenha mais votos do que daquela vez".
saiba mais
Constança, que já havia sido vereadora por dois mandatos (1992-1996 e
1999-2000, também como suplente) em Coivaras, no Piauí, perdeu um filho
durante a campanha passada e pediu para ninguém votar nela. A professora
aposentada acabou votando em si mesma por orientação do partido. "Me
disseram que eu tinha que ter um voto na época para não quebrar a
coligação"."Na época da eleição, perdi meu filho de câncer e pedi para não votarem em mim. Não estava bem, não fiz comício nem campanha. Eu não esperava nunca, minha filha, ser chamada a assumir. Foi Deus que me levou para lá", afirma.
Ela assumiu depois que dois antecessores – o vereador eleito e o primeiro suplente – foram cassados por infidelidade partidária, permitindo que ela tivesse seu terceiro mandato. Em busca de mais quatro anos no cargo, Constança faz planos para um possível novo mandato. "Acho que o tripé besta da política é pensar em saúde, educação e segurança. Tem que olhar para todos os lados e aparar as arestas. Meu primeiro projeto em 2013 será uma casa para a diversão dos idosos. Tenho muita garra ainda, minha filha".
3.640 candidatos com 1 voto
Levantamento realizado pelo G1 com base nos dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aponta que 3.640 candidatos receberam apenas um voto nas eleições municipais de 2008, todos eles postulantes ao cargo de vereador. Nenhum foi eleito diretamente – o vereador eleito com menor número de votos recebeu 27, em Borá (SP).
Dos 3.640 candidatos que receberam apenas um voto em 2008, 1.341 ficaram como suplentes, podendo ser chamados a qualquer momento durante os quatro anos de legislatura. Diversos motivos podem levar à convocação, como cassação, mudança de partido (que provoca a perda do mandato eletivo) ou até mesmo a decisão do próprio titular de abdicar da vaga, seja por motivos pessoais ou para concorrer a outro cargo.
Sistema proporcional
O processo eleitoral brasileiro é composto por dois esquemas distintos: o sistema majoritário (para eleição de presidente, governador, prefeito e senador) e o sistema proporcional (para escolher deputados federais, estaduais, distritais e vereadores).
No sistema proporcional, a quantidade de votos nem sempre elege um candidato. Ao votar para vereador, por exemplo, o eleitor escolhe o candidato e, também, o partido ou coligação ao qual ele é filiado. No final do pleito, cada partido obtém uma quantidade de vagas proporcional à soma das votações de todos os seus candidatos. As vagas são preenchidas, por ordem, pelos candidatos mais votados do partido. Se o candidato tiver pelo menos um voto, está apto a assumir. (Entenda melhor como funciona a eleição para vereador)
Para o ex-ministro do TSE Torquato Jardim, "não há discrepância e nada de errado" no fato de candidatos de um só voto assumirem em detrimento de outros mais votados.
"Isso faz parte do processo eleitoral. Por isso o sistema se chama 'lista aberta', onde o voto do eleitor tem dois significados, permitindo que ele opte tanto em um candidato quanto na legenda", afirma.
"É tradição brasileira desde 1932 o voto proporcional nas eleições para vereador, buscando romper o domínio de um ou outro partido e maior representação de todos", diz.
O juiz eleitoral de Alagoas Domingos de Araújo Lima Neto, no entanto, acredita que o sistema proporcional "gera casos injustos". "Assumem pessoas que você nunca ouviu falar, totalmente desconhecidas, porque a cadeira é do partido. A votação proporcional tem um cuidado com a legenda partidária, mas peca na questão da representatividade".
'Não sabia o que um vereador fazia'
O G1 encontrou outra candidata a vereadora que recebeu um só voto em 2008 e assumiu o cargo durante o mandato. Há também um vereador que assumiu tendo recebido dois votos. Nenhum deles, no entanto, concorre à reeleição.
Jorge Azevedo Filho, de 29 anos, suplente da irmã em Serra Caiada (RN), assumiu o cargo em maio deste ano depois que a vereadora perdeu o mandato por infidelidade partidária. Ele havia recebido apenas dois votos. "Antes de entrar na Câmara Municipal, eu não sabia o que um vereador fazia. Acho que todo cidadão tinha que ser vereador por alguns dias, pelo menos, para saber a importância do cargo", diz.
Vereadores com dois e um voto, Jorge Azevedo e
Cláudia Câmara não vão disputar a eleição 2012
em seus municípios (Foto: Reprodução/TSE)
"Eu tinha muita vontade de continuar, mas, com a minha irmã concorrendo
à prefeitura, gera um certo ciúme. Decidimos investir na candidatura
dela", afirma o vereador, que, após o curto mandato, vai retomar o
trabalho em uma empresa familiar.Cláudia Câmara não vão disputar a eleição 2012
em seus municípios (Foto: Reprodução/TSE)
Em Ceará-Mirim (RN), município de 66 mil habitantes a 38 km de Natal, a farmacêutica Cláudia Roberta Câmara ficou como suplente em 2008, após receber apenas o voto do marido. "Minha família tem atuação política, mas eu nunca me envolvi. Quando vi meu nome, com um voto, no resultado final da votação, me surpreendi", relembra.
Um irmão de Cláudia é candidato a prefeito do município e a família optou por "concentrar esforços". "Já fiz vários requerimentos e tomo mais minha atenção para pavimentação e iluminação pública. Estou aprendendo bastante, mas vamos focalizar a candidatura do meu irmão, que já é uma briga grande.
FONTE---------------G1.com
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