Os efeitos provocados pelo regime comunista da Alemanha Oriental ainda estão sendo sentidos nas igrejas da região em que se situava o antigo país mais de 20 anos após a queda do Muro de Berlim. Um novo estudo divulgado por uma organização de pesquisa norte-americana revela que apenas 13% dos habitantes da ex-República Democrática Alemã dizem que sempre acreditaram em Deus.
O índice é o mais baixo dentre as 30 nações que foram alvo do estudo, intitulado "Belief in God across Time and Countries" ("A Crença em Deus através dos Tempos e de Países"). O relatório foi divulgado pelo Centro Nacional de Pesquisas de Opinião da Universidade de Chicago.
Os seis Estados que compõem a ex-Alemanha Oriental apresentam também a maior percentagem de ateus (52% dos entrevistados), o que contrata bastante com, por exemplo, as Filipinas, o país mais religioso do mundo, onde os ateus são menos de 1% da população. No oeste da Alemanha, 10,3% dos entrevistados se disseram ateus. E nos Estados Unidos, que se destaca entre as nações desenvolvidas devido ao seu elevado número de crentes, apenas 3% dos entrevistados disseram não acreditar em Deus.
"Os países com alto índice de ateísmo (e baixo índice de crença) costumam ser ex-Estados socialistas e nações do noroeste da Europa", diz Tom W. Smith, o autor do estudo. "Países com baixo índice de ateísmo e alto índice de crença tendem a ser sociedades católicas, especialmente no terceiro mundo, além dos Estados Unidos, Israel e Chipre".
Entre as nações do antigo bloco oriental, há um amplo espectro de intensidade de crença, e nela "a Alemanha Oriental, sem dúvida, ergue o mastro do secularismo", diz o relatório. Na Polônia, a influência da Igreja Católica "contrabalança a influência secularizadora do socialismo", acrescenta Smith.
O papel desempenhado pelo conflito
O relatório revelou ainda que a competição religiosa ou o conflito "podem estimular uma crença maior", conforme ocorre em Israel, com a sua tensão entre judaísmo e islamismo, e em Chipre, que é etnicamente dividido entre grupos ortodoxos gregos e muçulmanos turcos. Embora os Estados Unidos não experimentem tais conflitos religiosos intensos, a crença mais forte parece ser provocada em parte pela "intensa competição religiosa" entre as diferentes fés e denominações cristãs.
O relatório integra dados de pesquisas conduzidas pelo menos duas vezes em 30 países em 1991, 1998 e 2008 pelo Programa Internacional de Pesquisa Social, um grupo de famosas organizações internacionais de pesquisa de opinião. A reunificação da Alemanha ocorreu em 1990, mas os dados ainda precisam ser analisados levando-se em conta a separação entre leste e oeste. O Programa Internacional de Pesquisa Social formulou três perguntas sobre Deus que medem a crença, a modificação de crença no decorrer do tempo e se os entrevistados acreditam em um Deus pessoal.
A última questão revelou que apenas 8% dos indivíduos entrevistados na antiga Alemanha Oriental acreditam que há um Deus que "preocupa-se com cada ser humano pessoalmente", contra 92% dos devotos filipinos.
A crença aumenta com a idade
A pesquisa mostrou que o índice médio de crença religiosa diminuiu internacionalmente entre 1991 e 2008, embora o relatório tenha mostrado padrões mistos e flutuações em várias áreas. Na Rússia, na Eslovênia e em Israel, por exemplo, a crença em Deus está aumentando.
A idade tende a modificar a crença, revelou o relatório. Em 2008, 29 dos 30 países mostraram que a crença em Deus aumenta com a idade, até mesmo na antiga República Democrática Alemã, ainda que só um pouco. A diferença média de crença religiosa entre as pessoas de menos de 27 anos de idade, e as de mais de 68, foi de 20 pontos percentuais. No leste da Alemanha, a diferença entre essas duas faixas etárias foi de quase 13 pontos percentuais, comparado a uma diferença de quase 19 pontos percentuais nos Estados ocidentais do país.
"Isso indica que a crença em Deus é especialmente provável nos grupos de pessoas mais velhas, talvez como uma reação à antecipação cada vez maior da chegada da morte", diz o relatório.
O relatório conclui que, embora a crença em Deus esteja, de forma geral, diminuindo, as variações generalizadas em todo o mundo indicam ser improvável que tão cedo ocorra alguma "homogeneização" da crença ou da descrença.
Fonte: UOL
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